quinta-feira, 17 de maio de 2012

30 ANOS SEM ELIS REGINA


Elis Regina foi chamada de Pimentinha pelo grande poeta Vinicius de Moraes: a gaúcha baixinha de voz marcante e jeito de guria muleca.
Começou a carreira como cantora aos onze anos de idade em um programa de rádio para crianças chamado O Clube do Guri, na Rádio Farroupilha, apresentado por Ari Rego. Revelando enorme precocidade, aos 16 anos lançou o primeiro LP da carreira. Sobre o começo da carreira de Elis e a disputa entre quem de fato a lançou, o produtor Walter Silva disse à Folha de S. Paulo  



"Poucas pessoas sabem quem realmente descobriu Elis. Foi um vendedor da gravadora Continental chamado Wilson Rodrigues Poso, que a ouviu cantando menina, aos quinze anos, em Porto Alegre. Ele sugeriu à Continental que a contratasse, e em 1962 saiu o disco dela. Levei Elis ao meu programa, fui o primeiro a tocar seu disco no rádio. Naquele dia eu disse: Menina, você vai ser a maior cantora do Brasil. Está gravado."

Arrastão


Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945/ São Paulo, 19 de janeiro de 198) em 1980 desencarnou de morte trágica e prematura, deixou vasta e brilhante obra na música popular brasileira.


Causando grande emoção nacional, desencarnou aos 36 anos de idade em 19 de janeiro de 1982, devido a complicações decorrentes de uma overdose de cocaína, tranquilizantes e bebida alcoólica. Foi sepultada no Cemitério do Morumbi.

Elis é mãe de João Marcelo Bôscoli, filho do casamento com o músico Ronaldo Bôscoli, e de Pedro Camargo Mariano e Maria Rita, filhos do pianista César Camargo Mariano. Os três também seguiram a carreira de músicos.


O estilo musical 


O estilo musical interpretado ao longo da carreira percorria assim o “fino da bossa nova”, firmando-se como uma das maiores referências vocais deste gênero. Aos poucos, o estilo MPB, pautado por um hibridismo ainda mais urbano e ‘popularesco’ que a bossa nova, distanciando-se das raízes do jazzamericano, seria mais um estilo explorado. Já no samba consagrou Tiro ao Álvaro e Iracema (Adoniran Barbosa), entre outros. Notabilizou-se pela uniformidade vocal, primazia técnica e uma afinação a toda prova. O registro vocal pode ser definido como de uma mezzo-soprano característico com um fundo levemente metálico e vagamente rouco.


Desde a década de 1960, quando surgiram os especiais doFestival de Música Popular Brasileira (TV Record), até o final da década de 1980, a televisão brasileira foi marcada pelo sucesso dos espetáculos transmitidos; apresentando os novos talentos, registravam índices recordes de audiência. NoFestival conheceu Chico Buarque, mas acabou desistindo de gravá-lo devido à impaciência com a timidez do compositor. Elis participou do especial Mulher 80 (Rede Globo), um desses momentos marcantes da televisão; o programa exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de então, abordando esta temática no contexto da música nacional e da inegável preponderância das vozes femininas, com Maria Bethânia, Fafá de Belém, Zezé Motta, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joanna, Elis Regina, Gal Costa e as participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta, que protagonizaram o seriado Malu Mulher.







A antológica interpretação de Arrastão (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), no Festival, escreveu um novo capítulo na história da música brasileira, inaugurando a MPB e apresentando uma Elis ousada. Uma interpretação inesquecível, encenada pouco depois de completar apenas 20 anos de idade e coroada com o reconhecimento do Prêmio Berimbau de Ouro. O Troféu Roquette Pinto veio na sequência, elegendo-a a Melhor cantora do ano.
Foi Elis quem também lançou boa parte dos compositores até então desconhecidos, como Milton Nascimento, Renato Teixeira, Tim Maia, Gilberto Gil, João Bosco e Aldir Blanc, Sueli Costa, entre outros. Um dos grandes admiradores, Milton Nascimento, a elegeu musa inspiradora e a ela dedicou inúmeras composições.








E não é que a Pimentinha, Elis Regina, também foi espírita? Não só estudava a doutrina sistematizada por Kardec, como freqüentava um centro espírita em Curitiba e psicografava. De quebra, ainda serviu de ponte para a adesão de outros nomes notáveis da MPB ao espiritismo, a exemplo de Clara Nunes. O texto abaixo, que encontramos no Tablóide Digital, dá alguns detalhes pouco conhecidos sobre a vivência espírita da cantora. Ele foi escrito por Aramis Millarch e publicado no jornal Estado do Paraná, em 24 de janeiro de 1982, cinco dias após a morte da Pequena Notável.

Elis Regina foi durante muitos anos uma das maiores incentivadoras das obras filantrópicas que o espírita Amaury da Cruz desenvolve através do Centro Espírita Dr. Leocádio. Participando das sessões do Centro dedicado à fé kardecista, Elis Regina sempre foi bastante discreta em torno desta sua atividade e pelo fato da doutrina de Alan Kardeck (Leon Hipolyte Denizar Revail [sic] , 1804-1869) condenar totalmente o suicídio, todos que conheciam bem Elis Regina não acreditam, de forma alguma, que ela tenha, voluntariamente, posto fim a sua vida na manhã de segunda-feira.
A ligação de Elis Regina com o Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa a levou, algumas vezes, fazer shows em favor de obras sociais auxiliadas pelo professor e médium Amaury Cruz numa contribuição das mais meritórias e que fazia aumentar ainda mais o respeito e carinho que tantos tinham por sua pessoa. A ligação de Elis Regina com o professor Amaury Cruz e seus companheiros do Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa e as graças recebidas, fez com que inúmeros de outros famosos da vida artística brasileira também passassem a freqüentar suas sessões, num trabalho discreto e que nunca teve qualquer exploração publicitária.
Entre outros já freqüentaram o Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa, nestes últimos anos, artistas como Roberto Carlos, Clara Nunes e Geraldo Del Rey este, aliás, por um longo período.
Imagina só, umas das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos fazendo show em prol de instituições espíritas! Pra completar, só faltava Elis Regina cantar música espírita também… Bom, se pensarmos em música espírita como a composição musical escrita sob influência do espiritismo, que expressa um sentimento coerente com a visão de mundo espírita… Então ela cantou! Não só cantou como gravou! E o Espírito de Arte traz aqui a raríssima composição No Céu da Vibração, de Gilberto Gil. Uma homenagem a Chico Xavier, interpretada ao vivo por Elis!